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O Pós-pandemia e as igrejas

 Por Alex Esteves da Rocha Sousa

Embora não saibamos quando essa tormenta vai passar, a opinião pública já discute os diferentes aspectos do pós-pandemia do novo coronavírus, e como será “o novo normal” no combate a epidemias, na organização de eventos com grandes públicos, na cultura de assepsia e na saúde emocional das pessoas afetadas, de algum modo, pelo impacto de uma calamidade de proporções bíblicas.

Como não poderia deixar de ser, as igrejas evangélicas, cujas atividades foram tão largamente atingidas, refletem, ainda que informalmente, sobre os desdobramentos que o rastro da COVID-19 deixará quanto à vida eclesiástica.

Antes de pensar no futuro, é válido avaliarmos o presente: em termos teológicos, há certa confusão quanto à origem, natureza e propósito da pandemia, oscilando-se entre algo como Grande Tribulação, juízo divino, castigo por blasfêmias, ação demoníaca e princípio de dores; em termos espirituais, a falta de frequência aos cultos abre espaço para a constatação de que a vivência doméstica da fé talvez não seja tão robusta como deveria.

Prosseguindo: em termos políticos, vigora um tipo de ideologia segundo a qual o presidente da República seria um enviado de Deus levantado contra as hostes espirituais representadas pelos poderosos do sistema político em Brasília, nos governos estaduais e nas prefeituras; em termos financeiros, as igrejas sofrem um impacto importante e previsível; em termos jurídicos, a insegurança tem sido muito grande, pois não se sabe com precisão até que ponto os governadores e prefeitos podem se imiscuir no campo das liberdades fundamentais em sua luta contra o coronavírus.

Esse conjunto de fatores teológicos, espirituais, políticos, financeiros e jurídicos aponta para a vulnerabilidade da Igreja brasileira, cujas bases de Fé precisariam ser mais consolidadas para um momento tão grave. A “neopentecostalização” da cena evangélica cobra o seu preço, com sua inócua teologia da prosperidade, uma doutrina de batalha espiritual divorciada das Escrituras, um emocionalismo mágico desprovido de qualquer poder para enfrentar o dia mau e, enfim, uma cosmovisão ora pré-moderna (mística, obscurantista e medieval), ora pós-moderna (relativista, hedonista e de relações sociais fragmentadas).

Como as teologias triunfalistas (confissão positiva, pseudopentecostalismo do “reteté de Jeová” e teologia de autoajuda ou coaching) não terão garantido o fornecimento do produto anunciado (vitória poderosa sobre todos os males), elas tenderão a cair por terra, combalidas, mas a falta de boas perspectivas atrairá certamente novas distorções teológicas, novas formas “pandêmicas” de heresia. Nessa esteira, o que é ruim pode piorar.

No entanto, cremos que o Deus Soberano, que controla todas as coisas, jamais é surpreendido pelo mal, e tem completo domínio e conhecimento sobre o futuro. O remanescente fiel precisa ter consciência de sua missão profética, que é a de denunciar o pecado e anunciar o Evangelho. A missão profética da Igreja não muda, mas pode acentuar certos aspectos da vida e da ética cristãs quando percebe como Deus está operando no mundo.

Desse modo, será preciso extrair boas lições de uma realidade tão adversa, a fim de construir uma ênfase teológica conservadora e bíblica, que considere o novo mundo ensejado pela pandemia: o Senhor não muda, “nada há novo debaixo do sol” e o Homem é o mesmo, mas os desafios impostos pelas agitações hodiernas implicarão a necessidade de uma postura mais assertiva das igrejas. Não consigo pensar em outra coisa senão a busca por avivamento, e não há avivamento que não se faça com dois ingredientes básicos: oração constante e exposição honesta e exaustiva da Palavra de Deus.

*Alex Esteves da Rocha Sousa, evangelista, é vice-pastor da sede administrativa da Assembleia de Deus em Salvador-BA; bacharel em direito, é servidor público federal da área jurídica, casado e pai de três filhos.

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